No Brasil a carga horária é de 44 horas semanais, na França é de 36, mas nos Navios da Costa trabalha-se em média 70 horas semanais, sem nenhuma remuneração extra e quem ousar reclamar para o chefe ouve: “If you are not happy, I`ll give your sign off paper” (quer dizer: se não está feliz te dou o formulário para você pedir demissão).
Assim perdendo muitas vezes até o direito de receber o salário do mês, pois te dizem que pagaram passagem aérea e investiram para o novo tripulante chegar, e em caso de demissão, o trabalhador deve arcar com este ônus.
Cada tripulante para embarcar, desembolsa em média R$2.000,00 entre curso da Marinha, exames e estadia para fazer os cursos da companhia que são ministrados em Santos com estadia e alimentação por conta do candidato.
Ou seja, para quem desembolsa este dinheiro, para começar a trabalhar, muitas vezes já chega endividado, e quando se depara com esta situação de abuso por parte da empresa, vê a demissão como uma derrota ainda maior pelas dívidas contraídas e aceita a condição de trabalho muito diferente do que foi prometido pelo agente e pelo que diz no contrato, que é assinado da seguinte maneira: de 8 a 11 horas de trabalho diárias, sábado 4 horas e domingo livre, sendo o excedente pago em horas extras.
Sei que isto é utopia para quem conhece o mundo dos navios , mas é isto que está assinado em contrato e não é cumprido. Acredito que no patamar em que o Brasil está chegando, de nação de respeito, desenvolvida e rica, este tipo de atitude se assemelha com a das confecções que contratam bolivianos sem direito algum para trabalharem trancados muitas horas por dia e recebem por isso muito pouco.
Podem dizer que os tripulantes ganham bem e por isso se sujeitam a isso... Mentira.
Os salários de hoje estão em média de US$ 800 por mês, sem direito a férias, horas extras, recisão em caso de demissão...
A hora é de as autoridades competentes olharem um pouco para este lado do turismo, que vem crescendo a passos largos em nosso país, devido à enorme crise que afeta os europeus, ao forte mercado brasileiro, e também à exposição de nosso país na mídia que atrai cada vez mais navios para virem buscar clientes aqui em nossas águas.
Estamos falando também de uma situação em que estas empresas de navios tiram turistas e empregos dos nossos hotéis e resorts, assim gerando menos emprego e renda nas regiões turísticas do país.
Deveria ser seguido o exemplo dos Estados Unidos, onde existem leis muito rigorosas em relação à segurança da embarcação, normas sanitárias e condições de trabalho da tripulação, para assim quem sabe em 2014 e 2016 possamos fazer um bom trabalho e deixarmos um legado de respeito e tranqüilidade tanto para turistas e trabalhadores envolvidos com os turistas que já temos e os que ainda estão por vir.
RODRIGO MORA (Photographer)
RODRIGO MORA (Photographer)
Muito bom você estar contando isso aqui! Parabéns pela coragem!
ResponderExcluirVocê já assistiu um documentário chamado Pacific? Ele mostra um cruzeiro em Fernando de Noronha e como é o público desses cruzeiros.