A CÂMERA DA TATI SUMIU
Melhor, foi trocada, não interessa. A D90 novinha que ela comprou pra embarcar por mais de 3 mil reais desapareceu deste navio. Ela descobriu isso quando os defeitos começaram a aparecer, daí foi conferir o número de série, e não era a câmera dela.
Muito se falou, muitos e-mails foram trocados pra ver se algum fotógrafo não tinha levado por engano, mas no fim das contas terminou como tudo termina por aqui: em pizza, uma pizza pobre sem aquele recheio gordo brasileiro – é só massa, pomodoro e um litro de azeite de oliva.
UM ALÍVIO
Grande pra mim depois de um mês a bordo foi não ter investido em equipamento. Todo mundo mete a mão na câmera, flash, bateria de todo mundo. Porque na hora da brata não interessa de quem é, interessa voltar com a foto pro teu capo não fazer da tua semana um inferno. Fora isso tem o desgaste da câmera. A Cia paga 30 euros por mês pra quem usa equipamento pessoal, e isso não dá pra comprar nem meia câmera nova, no máximo fazer um recauxutamento barato.
A MAIORIA
Dos fotógrafos que embarcam com seu equipamento, desembarcam sem – eles vendem pra crew leigo, pessoas que acham que tamanho é documento e não sabem nem testar uma câmera, na maioria das vezes. E mesmo vendendo eles não recuperam o investimento.
NIKON X CANON
O padrão da Cia é Nikon, eu fotografo com Canon desde que comecei, com 14 anos. Claro que já me adaptei com Nikon, tudo ao contrário, pra mim é normal. Mas quando eu for investir no MEU equipamento digital, vai ser CANON, e só sai da cabine pra passear.
BATERIAS
O jogo de pilhas que eu trouxe já foi pro lixo, viciadinhas, tadinhas. Meu carregador também vai ficar na Europa, já anda variado. Me deram dois jogos de pilhas velhas, que chegam a demorar dois dias pra carregar completamente. Ou seja: boto pilha pra carregar todo dia, meu carregador vive ligado, fervendo e eu só desligo ele quando fico com medo de tacar fogo na cabine.
SISTEMAS DIGITAL E ANALÓGICO
Eu ia pro Victoria, mas devido ao número de sign offs no Concordia, acabei vindo pra cá. Existem navios que trabalham em sistema analógico, TODAS as fotos são impressas; e navio como o Discórdia, que tem um sistema EPX – a gente baixa as fotos no computador e os passageiros vêm ver com um ticket. Só que aqui a gente tá tomando no cu igual porque o Peppe resolveu imprimir a maioria das fotos. Na época do falecido bastardo a gente imprimia só embarque e ritratti, agora a gente imprime noite de gala, casal no restaurante em PB, camelo e mais um monte de coisas que eu nem lembro mais. O que isso significa: que a gente expõe e organiza fotos na galeria todo dia, ATÉ 3 VEZES AO DIA. Depois de uma noite de gala temos QUATRO mesas entupidas de basquetas entupidas de fotos, e é preciso pessoal pra montar e desmontar essas mesas, carregar e organizar elas. Significa que o passageiro, que não comprava a foto pelo preço, agora não compra pela dificuldade de encontrar as fotos.
FOTO NOS RESTAURANTES
Doce saudade eu tenho da época em que eu reclamava de ter que ir ao restaurante duas vezes por semana, nas noites de gala: Tunis e Barcelona. Agora eu faço SEMPRE, desde que o Peppe chegou:
NAPOLI (segunda): fotos só de casal que eles imprimem em PB, geralmente eu faço no Milano, que é maior. Se estou no rittrati tenho que sair pela menos um turno pra fazer o restaurante, e depois volto pro background.
PALERMO (terça): 500 fotos do pizzaiolo, faço o Milano inteiro e depois o que falta no Roma, deck 4 e 3 dos dois; e eu sempre faço segundo turno, que tem mais passageiros e os garçons estão mais em brata e quase me matam com aquelas bandejas com 12 pratos em cima. Primeiro eu fazia 400, depois que perceberam que eu tirava de letra, aumentaram pra 500.
TUNIS: single, single e casal. São impressas quatro fotos por casal, que a gente fica até a uma da manhã expondo (no Costa Today está escrito que fechamos às 11h30, todos os dias). Só pra lembrar, são mais de 3 mil passageiros, não gosto nem de pensar no número de papel jogado fora.
BARCELONA: primeiro era foto da mesa inteira, depois era casal, agora eu tenho que olhar o programa pra saber o que é. É o dia que se toma mais NO por metro quadrado, afinal, os franceses desembarcam amanhã.
Ou seja, só em Marseille (sábado), Savona (domingo) e Palma (quinta) que eu não me atiro em restaurante, e desde que eu embarquei, faço MILANO, que é mais longe e maior. Quando faço Roma faço ponte 4 sozinha ou centro sozinha porque meu chefe sabe que, pra mim, o Roma é um parquinho de diversões.
UNIFORMES
Como vocês já devem ter reparado, existem uniformes pra todas ocasiões. Não adianta querer lavar eles na crew laundry, viram chiclete – e vocês também não vão querer passar metade do contrato lavando roupa, espero.
A main laundry tem dias e horários especiais pra todas funções. Para os fotógrafos, no Discórdia, os dias são: SEGUNDA, QUARTA E SEXTA, das 8h às 11h – para deixar e para pegar é a mesma coisa. Quarta e sexta são as noites de gala, o que quer dizer que eu só posso deixar meu terno de gala na segunda pra pegar na quarta. Segundas e sextas abrimos às 8h30 e quarta tem a merda da excursão, que sai às 7h30. E eu ainda tento tomar café todos dias que a loja abre de manhã, se não meu estômago fica roncando na galeria e eu fico de mal humor. Ainda tenho a opção de ir nos meus 10 min de pausa, não aconselho, já cheguei lá e tinha fila, fiquei sem uniforme, sem cigarro, sem capuccino, sem um copo d’água e passaram os 10 min.
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