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10 de agosto de 2010

09/09/10 NAPOLI

Tinha combinado com o Marco da gente trovar na minha cabine, to pensando seriamente em ir me embora, de qualquer jeito. Sempre em mente o que o Fefé me falou: agüenta duas Barcelonas, daí tu vê se pode terminar o contrato ou não. O que eu não podia esperar...

JUVENTUDE TRANSVIADA???
Era que ele fosse na minha cabine muito mais estressado que eu. A gente anda tão louco que nem fala mais sobre os problemas. É SÓ... How are you doing? Shit. You? The same. I think I’m gonna quit. You? I think I’m gonna have a heart attack. Não importa a ordem, é sempre um ou o outro. Ele veio com o cabo da câmera, eu baixei as fotos em silencio. Ele, como sempre, me disse a verdade: You came here to work, you don’t have to be creative. You’ve been here for 6 months, you know what to do. Ele bateu a cabeça na cama, xingou ela em italiano, quando o telephone tocou ele disse I’m sorry e bateu a porta. Eu disse em alto e bom som (agora eu falo sozinha)... NO, I REALLY DON’T NEED HIM IN MY LIFE.

EM MENOS DE MEIA HORA
Ele voltou e me deu o maior susto da minha vida. LET ME GO IN, I CAN’T BREATH. Eu já estava conformada organizando as fotos no computador, conformada de que tenho que terminar o contrato e de que eu não tenho namorado. Quando eu vi ele respirando como meu pai em crise de asma, já sabia o que fazer. Deitei ele na minha cama, apaguei a luz, fiquei em pé pensando no que fazer. Esperei ele se acalmar um pouco, ainda em pé, fingindo não estar apavorada. Pensei na Rosi, no Sergio, na Gi, no Boy, no Jimmy, no meu pai, no que eu faria por eles. Tirei o tênis dele, desamarrei a desgraça do celular da cintura dele. Era o máximo que eu podia fazer, sempre pensando: ainda bem que eu não vi meu pai morrer.
Voltei ao computador pra ele não ver minha cara. Quando vi que ele respirava normalmente, falei pra ele ir embora pra casa. Que ele precisa ser honesto consigo mesmo, e já que ele precisa do dinheiro, inventar um medical off como todo mundo. Ele saiu pra respirar não sei onde, tava de port manning, não podia nem passar da gangway.
Voltou pra pegar o celular que tinha esquecido e eu me dei conta de que estamos juntos, sem sexo, sem beijo na boca, sem romance. De quanto a gente precisa um do outro, de quanto a gente se conhece, de quanto eu não me importo sobre o futuro. Só quero que ele viva e que a gente seja amigos pra sempre, sempre, nem que seja por facebook .

E EU FIQUEI COM MEDO
De perder ele pro navio, de que ele morresse jovem ou ficasse tão doente que não pudesse ser feliz nunca mais. Realizei que talvez eu nunca mais possa conviver em sociedade normalmente, e comecei a me perguntar porque toda essa juventude está a bordo. Me respondi muitas vezes, mas não consegui chorar, e isso me deu mais medo ainda.

MAS EU DORMI
Com medo de não acordar, acordei pra trabalhar, pra ouvir a Chiara falar como queria a foto da mesa, como se eu me importasse. Dividi com a Babyface o meu pavor, e a gente combinou de ir à praia juntas amanhã. Fui bravamente ao restaurante, simpática e profissional, a Chiara não teve do que reclamar, mesmo eu usando novamente a câmera mais velha da Cia. E quando eu voltei me perguntei como eu podia estar triste, estressada, inconformada e ainda ser brava. Me respondi: eu foi capaz de separar camisa a camisa do meu pai pra doar pra asilo, de esvaziar uma casa e uma vida aos 23 anos. De doar meu cachorro pra uma vida melhor, minha tartaruga pra uma criança mais feliz. Eu fui capaz de me rebaixar e fazer coisas que eu nunca fiz na minha vida, como morar com uma prostituta.

ORGULHO
Então fui ao banheiro e derramei cinco lágrimas pelo meu pai, pelo caminho que eu estou trilhando, pelo meu amigo que sempre me apoioue eu não sei direito o que fazer por ele, pela tristeza, pelo dia dos pais, por mim, que não sou idiota e sei que estou sendo explorada.

GRANDEZA
E depois que eu percebi que o Marco precisava mais de mim do que eu dele, que eu me dei conta que eu tenho um coração enorme. Na minha pausa de dez minutos fui no Office dele, ele não tava, deixei a chave da minha cabine e um bilhete mais ou menos assim... Quando tu precisares de um banheiro, uma cama, ou de estar sozinho, podes usar minha cabine. Mesmo não estando juntos como homem e mulher, me preocupo contigo. Por ai foi até... You can count on me. Don’t forget, you’re not alone. E saí de lá com a musica na cabeça: YOU’RE NOT ALONE, I’LL WAIT ‘TILL THE END TO BE WITH YOU.

MAS A MUSICA DO DIA é aquela que já me fazia chorar antes do meu velho morrer


Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção pra você viver mais
Deixei que tudo desaparecesse
Perto do fim
Não pude mais encontrar
O amor ainda estava lá
O AMOR AINDA ESTAVA LÁ

MIA CULPA
Queria estar lá pra tirar o tênis do meu gordo, do homem que sabia que sabia que eu chorava com a cara enfiada no travesseiro, pra ninguém saber que eu sofria. Daquele foi e sempre será o único. Aquele pelo qual a vida não vale a pena sem, o qual eu vou chorar de saudade pelo resto da minha vida...

2 comentários:

  1. minha doce muito obrigada que vc pensa em mim, eu tambem penso sempre em voce!!! saudades de quando falavamos a noite toda....quando eu posso sempre leio suas palavras verdadeiras aqui...como vc esta? estou um pouco preocupada por aquele que vc escreveo no facebook!!! fala minha amiga....ti voglio bene...eu vou embarcar agora, dia 20 de agosto no Magica....beijos Rosi

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  2. CARLA, eu nao sei qual eh tua funcao, mas tu ter que vir determinada a derrubar MUITAS barreiras.

    neste momento estou com uma dor terrivel no meu siatico, muitas horas em pè. mas isso nao me impediu de ir a praia com meu amigo Eliano, e as coisas por aqui sao sempre assim: INTENSAS E DE SUPERACAO A TODO MOMENTO.

    ROSI: apesar da pressao no trabalho, eu vou ficando. cada vez que acho que vou desistir vem um amigo me abraçar.

    cada vez que penso que nao sou forte o bastante, olho nossas fotos e tantas outras que tenho feito com novos amigos e encontro a força pra ficar aqui.

    BEIJOS PRA TODAS

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