Quem é do mar não enjoa: 21/09/10 Palermo

Minha Nossa Senhora, quando olho pra trás tenho até medo de lembrar quantas coisas eu aprendi, sobre mim mesma, sobre a vida de navio, sobre a Costa. Quanto estresse em vão eu passei achando que ia ser mandada embora, pra depois descobrir que tomei 3 fake warnings, que eles nunca existiram de verdade, eram só pra me deixar insegura, ter medo e trabalhar do jeito que eles querem, feito um camelo e sem reclamar.

eu que me assustei com o tamanho dele a primeira vez, agora passo e digo OI BAIXINHO... pra quem não sabe, essa ponte atrás é a gangway, e é embaixo deste toldo que eu fico fantasiada de marinheira agarrando 500 passageiros em TODOS Palermos

Mondello é minha terapia

Mesmo chegando aos 7 meses eu tenho certeza de que tenho coisas pra aprender, mas o pior já passou, com certeza, nada mais pode me deprimir tanto a ponto de ter vontade de me atirar no mar. Quantas vezes eu pensei em cheirar cocaína pra trabalhar, porque eu achava que não tinha condições de dormir e acordar até três vezes ao dia. Ainda bem que eu resisti até o fim a todos os convites pra todas as drogas velhas e novas, porque se não eu era capaz de uma besteira mesmo.

sinal que eu uso desodorante tááá

E hoje foi um dia assim, de profunda reflexão, de uma alegria indescritível de ser quem eu sou, hoje eu vi um turbilhão de coisas passar diante dos meus olhos. Então eu aproveitei que tive que acordar cedo pra me fantasiar de marinheira e abraçar 500 pessoas de graça pra aproveitar todo o tempo livre que eu tinha em Palermo.

É O BRASIL NA SICILIA, QUE SAUDADE DA MINHA GENTE

Primeiro fui tomar café no meu barzinho de sempre, aquele que ninguém sabe que pega internet. Fiquei lá ouvindo uma musiquinha, atualizando o blog, tentando postar vídeos no face, esperando a ligação da minha irmã... Cansada, tranqüila, serena e feliz.

Daí fui no navio, botei biquíni, arrumei meu kit de praia sem chimarrão porque eu tenho insônia e estou evitando cafeína. Fui pra Mondello com vontade de tirar fotos, de ficar sozinha na frente do mar, com vontade de me dar presentes de aniversário de bordo.

Ainda em Mondello comprei uma Moleskine 2011, eu que sempre amei agenda de bichinhos, resolvi encarar o adultismo e ter uma agenda comportada. A Bela que me ensinou que Moleskine é a agenda dos artistas, então é a minha cara, tem até espaço pra desenhar. Voltei no ônibus cheirando ela, investigando os mapas, fuso horários e pensando nas estórias que viveríamos juntas...

quis fazer uma foto com as algas e acabou ficando uma coisa GAROTA DO FANTÁTICO... medo, terror e panicooooo

AGENDAS

Eu coleciono. Quero deixar pros meus netos agendas de anos e anos da minha vida, já tenho umas quantas. Este ano eu não tive agenda escrita, mas vou dar um jeito de encadernar as coisas do blog. Ano que vem eu NÃO QUERO SABER DE BLOG, embarcando ou não. Hoje eu penso que não embarco mais, mas não posso garantir nada. De qualquer forma eu vou seguir viajando, nem que seja de uma bairro pro outro, pra trabalhar, como sempre.

Não interessa, ANO QUE VEM MEU DIÁRIO É ESCRITO A MÃO!

meu numero favorito

MUDANÇA DE VISUAL

Voltei da praia e fui pro salão, resolvi mudar minhas prioridades com dinheiro e gastar comigo, com minha beleza. Fiz pé, mão, sobrancelha e fiz uma coisa que nunca tinha feito na vida: escolhi um corte de cabelo de uma revista.

Eu, que nunca tive cabelo curto, resolvi marcar essa época da minha vida torando toda secura da água cheia de cloro fora. E EU AMEEEEEI MEU CABELO CURTINHOOOO!!!! Meus colegas e amigos também adoraram e meu namor quase deixou a bandeja cair no chão quando me viu...

minhas ultimas fotas de cabelo longo...

BACK IN HELL

Faz tempo eu tenho uma impressão meio sinistra: quanto mais divertido é meu passeio na rua mais infernal é minha noite de trabalho. Olha que eu tenho feito um esforço GRANDE pra ser mais positiva, pra não me estressar com as pequenas merdas de todo dia, pra cagar um quilo de cocô pro depressivo do meu gerente e ser feliz nas horas livres.

E hoje eu voltei pro navio com a CERTEZA de que nada podia quebrar a fortaleza que eu criei dentro de mim... Mas esse lugar tem uma energia u ó mesmo, e eu não precisei dar mais que 10 passos depois da gangway pra começar a me incomodar...

- eu pedi licença pros passageiros porque eu tinha 15 minutos pra entrar no trabalho, eles abriram espaço pra mim com gentileza, porque pedi com educação

- o segurança trancou minha bolsa dentro da máquina e disse que eu tinha que voltar pro fim da fila, que eu devia ter voltado mais cedo

- eu insisti com ele de que eu pedi com educação e que se os passageiros não se importavam de me dar lugar, ele não precisava aramar aquela cena toda

- ele anotou meu nome e eu já saí de lá pensando que ia ganhar um warning como presente de 7 meses...

- o que eu ganhei... dois seguranças me seguindo enquanto eu fazia o pizzaiolo nos restaurantes, eles devem ter ficado passados de ver os passageiros querendo tirar foto comigo com suas câmeras pessoais, porque mesmo a essa altura do contrato eu AINDA consigo ser gentil com gente educada

- na galeria um segurança passou a noite inteira me observando do andar de cima

- um deles foi no photo shop atrás do Peppe, que estava no laboratório, ele avisou que ia descer lá pra entregar um warning (fiquei tentando imaginar a conversa entre um que não fala inglês e outro que não fala italiano)

- no fim do dia não tinha porra nenhuma pra eu assinar, e se tivesse eu não assinaria. E se me mandassem embora eu ia bem faceira...

aqui ainda estava no meu paraiso

MAS O PIOR DE TUDO

Foi a morte do pai do Ariel. E eu sofri mesmo sabendo que aquilo não tinha nada que ver com minha vida. Primeiro porque eu sei a agonia de entrar num avião sem saber se tu vai ver teu pai antes de ser enterrado, segundo porque o Ariel é meu marido de embarque (eu conheço ele melhor que os outros), terceiro porque ele é meu bebê, as poucas coisas que ele sabe em italiano fui eu que ensinei e pequenas malandragens pra não se cansar tanto no trabalho também. Mais triste porque ele estava embarcado ainda, e pra sair na Tunisia é foda, mas ele conseguiu.