Eu não me levantei pra trabalhar na excursão. Acordei às 9h30 no susto... Comecei a me bater, botei uniforme, saí da cabine a procura de ajuda. Só pensava nas doces palavras do Morcegão: próximo atraso, WARNING. Encontrei um amiguinho italiano que fala português muito bem e tem um super cargo. E ele, que conhece muito bem essa Cia, me disse claramente o que eu tinha que fazer: pegar um papel.
Fui no médico e em 5 min eu tinha um medical off – e eu não pedi por ele. O PROBLEMA é que era noite de gala, e eu não podia nem queria deixar minha equipe na mão. Mas o Morcegão também já ameaçou me dar um warningam se eu trabalhasse de medical off... Então o que me restou foi entrar pro sistema, aquele em que eu disse que não conseguia dormir, o médico disse que eu estava cansada e estressada, me deu boletas E O PAPEL.
Se o sistema não fosse tanto “eu não tenho um coração”, eu teria perdido a excursão e trabalhado 12 horas no navio com os meus colegas, mas eu fui pra cabine com o rabo entre as pernas, desta vez sem aquela culpa. Uma culpa que me ensinaram a sentir, mesmo quando eu estava doente, mesmo quando precisei de ajuda de verdade.
Não acho bonito nem feio, tem gente que nunca foi ao médico e gente que fingiu ter todas as doenças do mundo pra desembarcar. Cada um faz o que precisa fazer pra sobreviver aqui, só que a sobrevivência, para muitos, é estar longe daqui. Eu achei que tinha conseguido emprego, entrei numa guerra e virei uma guerreira de verdade. Ele que pegue o atestado e meta no rabo, porque eu vou ficar até o fim.
Foi um filme argentino ÓTIMO que eu vi hoje, dramático como eu, ou como a vida. Depois de ver esse filme eu me dei conta de que não importa muito o que acontecer, a vida vai continuar do mesmo jeito. Se eu for pra casa por warning, medical off ou se eu terminar o contrato, só eu posso guiar minha vida. E também saí da neurose de tentar DEMONSTRAR que eu mereço estar aqui, porque ninguém dá bola pra isso e porque eu dou o meu melhor mesmo nos meus dias ruins, e é o máximo que eu posso fazer.
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